August 18, 2003

THE QUIZ SHOW: Alexandre Okada > na 1ª pessoa

Alexandre Okada, Director Criativo da Leo Burnett falou em exclusivo com o "The Hidden Persuader". Aqui fica a nossa troca de correspondência - desde já um sincero obrigado pela pronta disponibilidade do Alexandre em colaborar conosco.


1) O que é que acha da publicidade que se faz em portugal, do meio e das pessoas?
R: Acho que Portugal é um mercado em evolução. Percebe-se que tanto do ponto de vista criativo como em termos de produção que Portugal vem evoluindo de forma consistente nos últimos tempos. Acho que se Portugal tivesse maiores oportunidades este processo seria acelerado. Quanto as pessoas, acho que é o mesmo em quase todos os países... Há de tudo: pessoas boas, pessoas más, pessoas porreiras, outras nem tanto...

2) No seu artigo da M&P "Um Grande País", o Alexandre indirectamente considera que algumas pessoas do meio perdem mais tempo em criticar o
trabalho uns dos outros de forma gratuí­ta e pouco construtiva (essa é a nossa interpretação). Continua a achar que deveria haver mais apoio e camaradagem quando Portugal participa e mostra trabalho lá fora?

R: Acho que existem pessoas acomodadas, que preferem manter o estabelecido eternamente. Estas pessoas acabam por ter uma atitude negativa a qualquer iniciativa nova... Nos mercados evoluídos, a concorrência de alto ní­vel é um motor para todo o mercado. Veja o caso da Inglaterra ou do Brasil... A qualidade criativa não está restrita a 1 ou 2 agências. E isto acaba por estimular a busca do novo. No final, o mercado se nivela por cima. Eu prefiro ser a 3º ou 4º agência num mercado super competitivo do que ser líder pela falta de qualidade dos concorrentes...

3) Esta é inevitável: que rescaldo/comentários tem a fazer 3 meses após o famoso episódio da campanha Ferin em Cannes? Ainda sente pena e alguma angústia por ter deixado fugir o 1º Grand Prix que Portugal nunca teve? Continua a achar que as regras que foram aplicadas à  campanha Ferin (as tais que sempre existiram) não foram aplicadas no passado? Os critérios não foram neutrais?
R: Em diferentes paí­ses e mercados é uma prática comum se utilizar o volume de negócios da agência para se viabilizar algumas ideias. Quem tem maior poder de negociação junto aos meios? Uma agência de publicidade multinacional ou um pequeno cliente local? Para mim a questão vai além das regras e tem a ver com poderio económico. Se tivesse acontecido a mesma coisa, só que o jornal fosse o New York Times será que teríamos perdido o Gran Prix? Tenho certeza que diversas agências conseguiriam um preço especial no NY Times...Conseguiriam não, conseguem... Porque esta é uma prática que existe no mundo. Há algum tempo atrás, uma agência multinacional de um grande mercado entrou em conflito com seu cliente por uma ideia. A agência pagou a veiculação da campanha na Wallpaper e fez pesquisa. Só depois disso que o cliente aceitou avançar com a campanha... Campanha que aliás ganhou um Grand Prix num festival. Qual é a diferença neste caso? Poderio económico.

4) A Leo Burnett não tinha conhecimento desses regulamentos antes apresentar a campanha em Cannes?
R: Não. E vamos deixar uma coisa clara: a peça está dentro do regulamento. Ela apenas está inscrita na categoria errada. E qualquer pessoa que já fez uma inscrição em festival sabe que estes erros acontecem. O correto seria o festival relocar a peça de categoria.

5) Acha que a network LB devia ter "lutado" mais pela campanha ou não valia a pena lutar contra "moinhos de vento"? Sentiu alguma falta de apoio por parte do Miguel Angel Furones (Chief Creative Officer of Leo Burnett Worldwide) nesta situação?
R: Tanto a Leo como o Miguel Angel Furones fizeram o máximo... O problema maior foi a falta de tempo. Solicitaram as provas na egunda às 21:00 e tudo deveria ser apresentado na terça as 9:30 da manhã. Uma pessoa voou de Portugal para Cannes mas só foi possível chegar as 14:00 horas... Aí já estava tudo decidido e anunciado...

6) Objectivos pessoais, tem? Quais são? Dizem apena respeito à Leo Burnett?
R: Meu objetivo pessoal é evoluir e aprender. Em relação à Leo, meu objetivo é construir algo sólido, tanto do ponto de vista criativo quanto de business.

7) O ano de 2004 será bom para a Leo Burnett?
R: Se você busca a evolução e o aprimoramento, o futuro tende a ser sempre melhor que o presente...

8) Para si qual é o país com o tipo de criatividade que mais gosta e se identifica? Americano? Brasileiro? Europa do Norte?
R: Inglesa em tv, americana para coisas mais populares e brasileira em gráfica.

9) O que é que acha das mulheres portuguesas (risos)?
R: É difícil generalizar... Cada mulher é única.